Populismo seletivo: quando a crítica ignora os boletos pagos

Faltando pouco mais de um ano para as eleições presidenciais de 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), já se movimenta como pré-candidato. Em um vídeo nas redes sociais, o goiano voltou sua artilharia verbal contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamando-o de “populista, inconsequente e irresponsável” ao criticar a condução da política fiscal do país.

Em sua fala, Caiado apontou que Lula “não dá prioridade a ajuste fiscal” e que “cria um quadro de irresponsabilidade”. Mas há um ponto que o governador omite — ou prefere silenciar: foi justamente sob o governo Lula que Goiás teve parte expressiva de sua dívida com a União renegociada. Em julho, por exemplo, o Tesouro Nacional pagou R$ 73,16 milhões em dívidas do estado. No acumulado de 2025, já são mais de R$ 518 milhões pagos em nome de Goiás, dentro do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que o estado aderiu com apoio da gestão federal atual.

A pergunta inevitável é: como acusar de populismo um governo que está bancando as dívidas que o próprio estado contraiu? Como chamar de irresponsável a gestão que oferece condições para que Goiás tenha fôlego fiscal, inclusive com medidas de corte de juros, prazos de pagamento e incentivos ao ajuste orçamentário?

A incoerência do discurso de Caiado também se revela em sua crítica à política externa de Lula, especialmente em relação ao recente “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Caiado cita Donald Trump como referência, mas ignora o fato de que a política tarifária do ex-presidente norte-americano é uma medida protecionista que afeta diretamente o agronegócio — setor essencial à economia goiana. Ao endossar a retórica de Trump, Caiado age contra o próprio interesse econômico de seu estado.

O jogo eleitoral parece ter começado cedo para o governador, e a estratégia é clara: mirar no PT como inimigo comum e fortalecer a própria imagem como líder da oposição. No entanto, ao ignorar os benefícios recebidos de um governo que ele tanto critica, Caiado arrisca cair na armadilha do populismo que tanto condena.

Goiás precisa de liderança que seja coerente, responsável e que reconheça os avanços — venham eles de aliados ou de adversários políticos. Atacar por atacar é fácil. Difícil é governar com responsabilidade, gratidão e compromisso com a verdade.