Trump, Kimmel e a liberdade de expressão sob medida

Jimmy Kimmel, veterano do late-night americano, viu seu programa ser retirado do ar “indefinidamente” pela ABC após comentários polêmicos sobre o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk. Kimmel ironizou em seu monólogo que a chamada “MAGA gang” tentava lucrar politicamente com a tragédia — piada atravessada que, somada às críticas ao luto performático de Donald Trump, bastou para que executivos do grupo Nexstar batessem o martelo.

A reação do ex-presidente foi imediata: festejou a suspensão como uma vitória para os EUA, chegou a parabenizar a emissora pela “coragem” e ainda aproveitou para pedir que NBC faça o mesmo com Jimmy Fallon e Seth Meyers.

A ironia é evidente. Trump, que costuma se apresentar como paladino da liberdade de expressão global, não hesita em acusar o Supremo Tribunal Federal do Brasil de censura quando decisões atingem seus aliados políticos. Mas, quando a tesoura corta o microfone de um comediante que o satiriza, aplaude de pé. Liberdade, ao que parece, é ótima desde que se aplique apenas aos amigos.

Enquanto Kimmel deixa o estúdio irritado e em silêncio, o episódio expõe a velha contradição: para certos líderes, a liberdade de expressão não é princípio universal, mas instrumento de ocasião. Serve para protestar contra juízes brasileiros, mas também para brindar o silêncio forçado de adversários em casa. E, no palco da política, nada é mais sério do que uma piada no momento errado — sobretudo quando o alvo é aquele que tanto promete defender o direito de rir.