Inscrição assíria de 2.700 anos descoberta em Jerusalém reforça relatos bíblicos sobre o Reino de Judá
Arqueólogos em Jerusalém descobriram uma inscrição assíria de 2.700 anos, em fragmento de argila, que pode lançar nova luz sobre eventos descritos no Antigo Testamento. O achado é considerado um dos mais importantes dos últimos anos por conectar diretamente a arqueologia à narrativa bíblica.
O pequeno fragmento — com cerca de 2,5 cm de comprimento — fazia parte de um selado oficial, usado na antiguidade para autenticar documentos. Ele foi encontrado em um canal de drenagem próximo ao Monte do Templo, na Cidade Velha de Jerusalém. Segundo os pesquisadores, trata-se da primeira evidência concreta de relações entre o Império Assírio e o Reino de Judá encontrada na capital israelense.
🔍 Origem e conteúdo da inscrição
A análise da argila revelou que o material veio da região do rio Tigre, onde ficavam os principais centros administrativos assírios. O fragmento contém inscrições em cuneiforme acadiano, o idioma semita mais antigo do mundo.
Ao decifrar o texto, os especialistas encontraram o que parece ser uma queixa de autoridades assírias sobre o atraso no pagamento de tributos por parte de Judá, uma menção direta a conflitos econômicos e políticos citados nas Escrituras.
“Como historiador, considero este achado como uma lanterna que ilumina o nevoeiro da história”, afirmou o professor Peter Zilberg, especialista em Estudos do Oriente Próximo da Universidade Bar-Ilan, em entrevista ao The Times of Israel.

Yoli Schwartz/Israel Antiquities Authority
📜 Conexão com a Bíblia
O conteúdo da inscrição se assemelha ao episódio relatado em II Reis 18 e 19, quando o Rei Ezequias de Judá enfrentou o Rei Senaqueribe da Assíria. O texto bíblico narra que, após resistir por um tempo ao pagamento de tributos, Ezequias admitiu seu erro e enviou ao império 300 talentos de prata e 30 de ouro.
“O rei de Judá enviou esta mensagem ao rei da Assíria: ‘Pequei; retira-te de mim, e suportarei o que me impuseres.’ Então o rei da Assíria exigiu dele tributo de trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro.”
(II Reis 18:14)
Segundo Zilberg, o fragmento parece comprovar a autenticidade desse tipo de relação diplomática e fiscal, demonstrando que Judá estava sob forte pressão política e econômica da Assíria.

Emil Aladjem/Israel Antiquities Authority
🏺 Importância histórica
Embora o fragmento não contenha a data exata, os pesquisadores dataram o artefato entre o final do século VIII e meados do século VII a.C., período marcado por conflitos e tensões entre os dois reinos.
“Mesmo sem sabermos se o atraso no pagamento foi técnico ou político, o fato de haver um documento oficial já indica o grau de atrito entre Judá e o governo imperial”, explicou o arqueólogo.
Além de confirmar parte das narrativas bíblicas, a descoberta ajuda a entender como pequenos reinos, como o de Judá, se relacionavam com superpotências regionais. O artefato é uma das raras provas físicas que unem história e religião, mostrando que muitos relatos bíblicos refletem eventos reais do Oriente Próximo Antigo.
Shai Halevi/Israel Antiquities Authority
