Opinião | Entre fontes e transferências: a disputa por protagonismo no verde de Goiânia

Na política, nem sempre o gesto mais vistoso é o mais necessário. A recente retirada da fonte luminosa do Parque da Lagoa para ser reinstalada no Vaca Brava, sob justificativa de “embelezamento”, escancarou um dilema crônico da gestão pública: a troca constante de prioridades que favorece a visibilidade em detrimento da equidade.

A instalação da fonte no Parque da Lagoa, feita durante a presidência de Luan Alves na Agência Municipal do Meio Ambiente, representava mais do que um adorno estético. Era um símbolo de investimento em uma área menos central, mas não menos importante para os goianienses. A decisão de levá-la para o Vaca Brava, um parque já consolidado e valorizado na cidade, soa como uma manobra de marketing institucional: reforça o cuidado com o que está no centro das atenções e esvazia o que está na periferia do debate urbano.

A aprovação do projeto que inclui o Parque da Lagoa nos roteiros turísticos e culturais oficiais da cidade é, por outro lado, um passo importante para sua valorização. Mostra que há parlamentares atentos à descentralização das políticas de lazer e à importância de garantir que os parques não sejam apenas vitrines para fotos inaugurais, mas territórios vivos de convivência, esporte e consciência ambiental.

Mas o episódio da fonte também levanta um alerta mais amplo: como as decisões administrativas, quando tomadas de forma vertical e sem diálogo, podem minar o sentimento de pertencimento da população aos espaços públicos. A política do “puxar o lençol de um para cobrir outro”, como bem resumiu a vereadora Rose Cruvinel, é insustentável. A cidade não precisa de transferências simbólicas — ela precisa de investimentos consistentes, planejados e que respeitem o que já foi construído com dinheiro público.

A discussão sobre o Parque da Lagoa revela, no fundo, a disputa por protagonismo em uma cidade que ainda se esforça para equilibrar os holofotes entre os cartões-postais e os bairros. Valorizar um parque não é só instalar uma fonte. É garantir manutenção, segurança, acessibilidade, sombreamento, biodiversidade e, sobretudo, escuta ativa da população que faz uso diário daquele espaço.