A contradição entre o discurso e a realidade: Caiado critica Lula, mas governo federal alivia dívida bilionária de Goiás

Nos últimos meses, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) tem intensificado suas críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principalmente em eventos com viés eleitoral, onde posiciona-se como alternativa para 2026. No entanto, um dado econômico expõe a contradição entre o discurso político e a realidade fiscal: o governo Lula ajudou a aliviar bilhões de reais da dívida do Estado de Goiás com a União, em uma manobra que teve apoio da Assembleia Legislativa e impacta diretamente as contas públicas goianas.

Alívio bilionário na dívida com apoio federal

Segundo o Tesouro Nacional, só em 2025 a União pagou R$ 518,21 milhões de dívidas vencidas de Goiás, justamente porque o estado, sob a gestão de Caiado, se tornou inadimplente em algumas parcelas. Esses valores foram pagos diretamente aos credores e, posteriormente, serão cobrados do estado com juros e retenções de repasses federais.

Além disso, Goiás aderiu ao Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados (Propag), aprovado neste ano pela Assembleia Legislativa, o que permitiu uma redução de R$ 5,32 bilhões no valor da dívida com a União. A adesão ao programa foi possível graças à regulamentação do Ministério da Fazenda, sob a liderança do ministro Fernando Haddad, braço direito de Lula.

O silêncio sobre os benefícios e o ruído da crítica política

O que chama a atenção é o silêncio do governo estadual e de sua base aliada ao falar do papel do governo federal no reequilíbrio fiscal de Goiás. Em discursos públicos, como os feitos pelo vice-governador Daniel Vilela (MDB), há críticas pesadas às administrações anteriores, com acusações de desorganização e calote. Contudo, não se reconhece o papel essencial da União – sob a liderança de um presidente adversário político – na sustentabilidade das contas atuais do estado.

Esse tipo de posicionamento reforça uma prática comum na política: a apropriação dos méritos e a terceirização dos problemas. Quando algo dá errado, a culpa é do passado; quando algo dá certo, o mérito é da gestão atual – mesmo quando a base do sucesso tem forte contribuição externa, como agora.

A dívida e a responsabilidade compartilhada

É inegável que Goiás sofreu nos últimos anos com o peso da dívida acumulada, fruto de decisões passadas, desequilíbrios fiscais e, também, de crises econômicas nacionais. No entanto, é igualmente inegável que a atual gestão precisou recorrer ao mesmo socorro federal que tanto criticava, e que a melhoria na saúde financeira do estado passa diretamente pelas mãos de Lula e sua equipe econômica.

Enquanto o discurso político insiste em demonizar Brasília, os números mostram que a capital federal tem sido a responsável por manter Goiás respirando fiscalmente.

Conclusão

Ronaldo Caiado tem o direito de divergir ideologicamente do governo Lula. Mas o que se espera de um gestor público é coerência. Criticar quem estende a mão para salvar seu estado da falência pode até render aplausos em palanques eleitorais, mas soa, no mínimo, hipócrita diante da realidade dos números.

O povo goiano, que paga impostos e sente os impactos dos ajustes fiscais, merece transparência e maturidade política. Porque no fim, o que está em jogo não é a vaidade dos líderes, e sim o futuro de Goiás.