
Audiência na Câmara de Goiânia reúne movimento hip hop em protesto contra intolerância e repressão cultural
Na noite desta segunda-feira (7/7), o plenário da Câmara Municipal de Goiânia foi palco de um ato simbólico e potente: artistas e lideranças do movimento hip hop ocuparam o espaço legislativo durante a audiência pública “Hip Hop Não É Bagunça”, proposta pelo vereador Fabrício Rosa (PT). O evento reuniu DJs, MCs, grafiteiros, b-boys, b-girls, lideranças sociais e representantes da cultura urbana para denunciar a repressão institucional contra manifestações artísticas nas periferias da capital.
O protesto ocorreu após declarações polêmicas do prefeito Sandro Mabel (UB), que ironizou denúncias de violência praticadas pela Guarda Civil Metropolitana contra batalhas de rima em praças públicas. Durante a 7ª Conferência das Cidades, no final de junho, Mabel respondeu de forma debochada a um manifestante: “Então por que estão apanhando?”, gerando ampla reação de movimentos culturais e parlamentares da oposição.
A audiência também foi motivada por falas do líder do governo na Câmara, vereador Igor Franco (MDB), que criticou a saudação a Zé Pilintra, feita por um dos artistas que usaram a Tribuna Livre na semana passada. A fala foi denunciada como racismo religioso e intolerância às religiões de matriz afro-brasileira.
Durante o encontro, os participantes reforçaram que o hip hop é muito mais do que cultura de rua: é ferramenta de transformação social, instrumento de educação e forma legítima de expressão política. Em suas falas, os representantes do movimento ressaltaram que criminalizar ou ridicularizar suas manifestações é atacar diretamente os jovens das periferias.
“Essa audiência é um ato de resistência. O hip hop não é desordem, é organização popular, é cultura que educa, que acolhe e que transforma realidades”, declarou Fabrício Rosa, autor da proposta.
O plenário foi ocupado por dezenas de vozes que pedem respeito, visibilidade e políticas públicas. Além de apresentações culturais, houve falas contundentes sobre a urgência de combater o preconceito contra a juventude negra e periférica, a violência institucional e a falta de apoio da gestão municipal às manifestações culturais urbanas.
O evento deixou claro que o movimento hip hop está mobilizado e atento às decisões do poder público. A expectativa dos organizadores é que a audiência sirva de ponto de partida para a construção de políticas culturais inclusivas e antirracistas em Goiânia.
“O prefeito e seus aliados podem tentar calar a periferia, mas nós vamos continuar falando, rimando, grafitando e ocupando todos os espaços possíveis. A cidade também é nossa”, concluiu um dos MCs presentes no evento.